Incenso - A Sagração Do Aroma


 O incenso acalma, perfuma, unifica. Ao acender uma vareta, bastão ou fragmento de resina, um ritual acontece e ganha força: o fogo se une às ervas e um aroma agradável é exalado pela fumaça, que se torna parte do ar. Nuvem que sobe unindo terra e céu.

 Para várias culturas, o incenso é um elo com o sagrado. “A fumaça aponta para o mistério de Deus, ajuda a transcender”.Por esse motivo, pode-se dizer que o uso do incenso é tão antigo quanto a humanidade. Como oferenda, possui duas funções: a de agradar e homenagear os deuses e a de fazer os pedidos chegarem mais rápido até eles. Segundo o livro Incenso – Preparo, Uso e Significado Ritual (ed. Hemus), “povos primitivos estabeleciam contato com o divino através da fumaça oriunda da queima de ervas e madeiras aromáticas que se elevavam até os céus.” Desde então, essa é uma das principais finalidades que o incenso tem. A civilização egípcia foi a primeira a registrar seu emprego com a intenção de afugentar os maus espíritos e homenagear seus deuses.
 Mais adiante, na Bíblia, o incenso aparece como um dos presentes levados pelos três reis magos a Jesus. “Assim como o ouro, os perfumes e os incensos eram ofertados por serem caros e preciosos”.

- PARA LEVAR OS PEDIDOS AOS DEUSES

 É na Índia que o incenso ganha a força e o contorno que, anos depois, veio a ser comercializado no Brasil: uma mistura de ervas e resinas em forma de vareta. “Diz-se que o incenso surgiu na Índia, onde continua a ser feito artesanalmente”, afirma Norie Imayuki, pesquisadora e fabricante desse artigo. Nos rituais hare krishna, a religião que difundiu o uso dos incensos por aqui, ele permanece no altar e é oferecido a Krishna (ou Vishnu).
“É uma representação do elemento ar e ajuda a estabelecer um vínculo com o supremo”, diz Gadhadara Das, monge do Templo Hare Krishna São Paulo. Da Índia, o berço do hinduísmo e do budismo, o incenso se alastrou pelo Oriente na medida em que essas religiões ganhavam território. Foi levado para a China e chegou no Japão no século 6, onde foi adaptado para um bastão, sem as pontas de madeira. Nesse país, uma das finalidades do rito é marcar o tempo da meditação.
No zen-budismo, ela tem início quando o incenso é aceso e acaba quando ele termina. “Nós usamos o incenso para fazer uma conexão com o sagrado, o ser iluminado que se encontra em nós”, diz a monja Coen, da tradição zen-budista.
O bastão ajuda a criar a harmonia e pode ser visto como um símbolo da impermanência. “Ao queimar, se transforma em cinza e em fumaça, que se mistura ao ar inspirado pelos pulmões”, celebra a monja Coen.

- SÍMBOLO DO DESAPEGO E DA PURIFICAÇÃO

 No budismo tibetano, o incenso é o símbolo da generosidade e do desprendimento. É um dos elementos que representam os prazeres sensoriais – no caso, o olfato. A proposta é oferecê-lo para as deidades. Pois, dessa forma, a pessoa exercita o desapego dos prazeres sensoriais que é entregue como presente e se vai com a fumaça. O incenso também deixa o ambiente agradável, livre de energias negativas. É capaz de tornar ainda mais forte um ritual do qual participam várias pessoas. “Todos ficam na mesma vibração”, diz Meeta Ravindra, especialista em cultura indiana.
Seu caráter purificador é especialmente utilizado pelos muçulmanos.
 No Islã, as pessoas têm o hábito de acender o incenso às sextas- feiras, que é um dia sagrado. “Pode-se recitar uma surata (capítulo do Alcorão) e pedir a Deus para que ele purifique a casa”, diz Najla Kamel, professora de cultura árabe na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

***Catolicismo

Pedrinhas de olíbano são colocadas sobre brasas em um turíbulo, que é balançado na igreja e em torno do altar para purificar o ambiente.Turíbulo e incenso de resina da Milagros.

***Zen-budismo

O incenso em bastão marca a meditação e é colocado em um recipiente com cinzas sobre o altar, onde há uma imagem de Buda e flores.

***Hinduísmo

Para melhorar a concentração, o incenso (em forma de vareta) é colocado no altar, junto ao deus de que a pessoa é devota e a flores.

***Budismo tibetano

Como oferenda, o incenso é aceso no chão para que a fumaça suba até o altar.

***Islamismo

Utilizado para a purificação do ambiente, em geral sob a forma de pedrinhas douradas e amarelas queimadas em um utensílio chamado majamra.

***Religiões Afro-Brasileiras

 Utilizado como purificador do ambiente e pessoas para receber a presença dos Orixás,é normalmente queimado em brasa as folhas secas.