O Despertar Da Mediunidade

Analisando a instrutiva crônica elaborada por Holger Kalweit vamos descobrindo este outra lado dos acontecimentos relacionados ao despertar da consciência. Estamos vendo que a chamada faculdade mediúnica também é um fato, dos mais importantes, para o ajuste do EU em seu contexto de vida cósmica.

Esta outra face dos acontecimentos em estudo revela que no lado oculto de todas as coisas existem inteligências interagindo com as nossas.



Como exemplo ilustrativo temos a figura 22A. Nela temos seres em variadas colorações representando as inimagináveis inteligências existentes no cosmo, interagindo com o gênero humano da Terra. Interação mútua, porque nossas emissões mentais são registradas por elas. Esse intercâmbio, a todo instante está acontecendo, embora não seja claramente perceptível a todas as pessoas.

Pois bem, de todos os depoimentos colhidos nas mais variadas regiões do globo, pois Kalweit relata casos de xamãs - médiuns - da Sibéria, Filipinas, Hawai, Austrália, Peru, Coréia, África, etc, todos os envolvidos só se livraram dos tormentosos períodos de adaptação quando completaram o ciclo preparatório e se tornaram xamã, conforme o termo empregado.

Para nós, acostumados com esses transcursos, e de experiência própria conforme relatamos nas duas apostilas precedentes, sabemos bem que isso significa a preparação do desenvolvimento mediúnico.

Repetimos que tão logo o médium se encontre devidamente desenvolvido, ou adaptado, seu conjunto físio-psíquico volta a estabilizar-se, contudo, dentro de um novo padrão perceptivo, mais destacado que o anterior. Ou seja, passa a perceber o sentido e os por quês das coisas. (Na série Mediunidade, damos amplas informações sobre todo esse transcurso preparatório, ou como é comumente chamado, desenvolvimento mediúnico). Portanto, os textos de Kalweit revelam outra maneira possível de ocorrer um despertamento.

Mas, da apostila anterior, ficou uma pergunta a ser respondida, e ela veio em razão de que Kalweit conta que todos os despertar de consciência eram precedidos de traumáticos estados de desarranjos, comumente confundidos como doença.

A pergunta é formulada pelo próprio autor dos relatos, como também, aguçou nosso interesse nesta questão, e aqui vamos tratar dela.

"Por que temos de adoecer antes de podermos aceitar essa nova maneira de perceber ? Por que a entrada num nível mais amplo de experiência é marcada (...) por uma doença, ou, podemos dizer, por um processo de limpeza ?"

Realmente um fato curioso, e que arrasta tanta gente a dúvidas atrozes. Por que não conseguimos entrar no nível superior de percepções psíquicas sem que antes passemos por uma lavagem geral ? Esse é o teor da pergunta registrada acima



Vejamos como poderemos responder a essa pergunta. A série completa de nossos estudos vem mostrando a ampla jornada de vida pela qual a centelha espiritual de cada Ser tem viajado. Desde as formas mais rudimentares até ao homem, muitos têm sido os corpos que a consciência vestiu. Figura 22B.

Nessa troca de formas exteriores, conforme a razão nos esclarece, ocorreram deslizes comprometedores que fixaram o indivíduo, estacionadamente, em seu passado. Não obstante esses interregnos, nenhuma das criaturas, porém, está destinada à estagnação. Por causa disso, num dado momento da existência ela é concitada a prosseguir.

Suas roupas, verifica-se, não estão adequadas à nova escala de viagem que irá empreender. Estão, digamos, sujas. Será preciso limpá-las. E´ quando, então, no seu trajeto de vida surge a operação limpeza. Transformação, para sermos mais exatos, pois não estamos falando em banhar os corpos, ou o corpo. Estamos falando em transformação psíquica.

Enquanto se situava em corpos dos reinos inferiores, "Mineral ao Elemental", essas transformações foram feitas por força de automatismos e dirigidas por Seres que disso cuidavam. (Vide a série A Criatura). Entretanto, estando o Eu Maior dirigindo corpos no reino Humano, implica que agora se tornou um Indivíduo, isto é, possui vontade própria. E nem sempre a vontade espontânea, própria do indivíduo, aceita sua transformação psíquica.

Mas nem por isso ela deixará de acontecer, pois faz parte dos Planos Maiores de vida que essa transformação, evolução, aconteça. E para tanto, o expurgo de determinados registros do passado, do indivíduo em questão, que incidem sobre o momento presente, deverão ser eliminados.

Num dado momento, então, soa o alarme do relógio cósmico que controla nossas vidas, dizendo-nos dos chamados para as transformações.

Não importa o que sejamos na vida social. Soado o alarme ( figura 22C ) nada mais detém o processo de transformação, e inicia-se a série de acontecimentos relativos à limpeza psíquica.

Como o expurgo psíquico incide sobre o físico, dada a interpenetração de um sobre o outro, isto é, do corpo Astral sobre o corpo Físico, neste a operação limpeza toma a feição de doença. Não é, propriamente uma doença. São desarranjos orgânicos provocados pela fluidez das novas energias que passaram a interagir com aquela pessoa, com o fito de provocar o expurgo.

De princípio, entretanto, e a lógica assim nos diz, não seria preciso adoecer para atingir os níveis superiores de percepção. Isto é, adoecer não é um quesito obrigatoriamente a ser atendido. Todavia, repetimos, em razão dos desvirtuamentos perpetrados em existências findas, nesta, impulsionado pela lei do progresso, vive o indivíduo o expurgo corretivo de seu passado, na forma de aparente doença.

Se observarmos os sistemas religiosos existentes na Terra, veremos que nas mais variadas tradições, de todos os povos, encontram-se cerimônias de iniciação, cujo sentido é o da purificação, no intento de permitir acesso a algo que seja superior. Exemplos: batismo nas igrejas Católica e Protestantes; rito de iniciação na Maçonaria; lavagem da cabeça dos médiuns na Umbanda, etc, e o mais popular de todos, que é o jejum de alimentos.

Este último seria para aliviar o corpo das tensões digestivas, uma espécie de mortificação, e permitir mais liberdade ao espírito do praticante, pois, como é sabido, a ausência de alimentos enfraquece o corpo. Este enfraquecido afrouxa os liames que o prendem ao corpo Astral. A partir daí, a pessoa começa a ter alucinações, acusando que está tendo visões, ouvindo vozes estranhas e outras percepções que, em sendo novato no processo, acaba por se encher de temores.

Pois bem, todos os cerimoniais de iniciação são uma "permissão", ou seja, uma aceitação do indivíduo naquele meio, com o fito de alcançar um nível mais elevado de espiritualização. "Um salto do humano para o sobre-humano", diz Kalweit. Exatamente o que consta da série A Criatura, quando falamos de evolução humana e super-humana.

Assim, pois, a suposta doença que acomete a todos no estágio de despertamento é, exatamente, a operação de limpeza, a concessão da "permissão", para que o indivíduo possa ter acesso a significações maiores da vida, coisa que antes dessa limpeza seu confuso passado impedia. Não sendo, porém, como dissemos acima, um quesito obrigatório a ser cumprido por culpados e inocentes. Obviamente, a esmagadora totalidade da humanidade passa por ele em razão de suas culpas.


Com a figura 22D estamos ilustrando as duas situações em que se situam as fases pré, e pós, "a doença do xamã". Na fase que antecede a doença iniciatória, a aura do indivíduo se mostra conturbada devido sua bagagem cármica e as pressões que estas exercem sobre ele. As pressões são as forças de expurgo com o efeito de limpeza. Obviamente, que nessa fase as percepções psíquicas estão situadas apenas no nível da dimensão física.



Após o transcurso do processo de limpeza, ou da "doença do xamã", em que toda a conturbação se aquieta, a aura da pessoa se mostra harmonizada e a percepção de outras dimensões se mostra clara. A pessoa está de posse da "permissão" que lhe dá acesso aos outros níveis de vida.

Considerando essas informações, e reforçando a resposta à pergunta, Kalweit assim descreve esse período de "obtenção da permissão", ou a fase da Aura Conturbada, na figura 22D.

"Os estágios importantes da vida da pessoa têm vínculos com períodos de purificação interior, de modo que o indivíduo, (...) livre dos processos de pensamento e lembranças costumeiras, possa progredir, chegando a uma existência nova e sem sobrecargas."

Livre de processos de pensamento e lembranças costumeiras, significa livre das pressões psíquicas que seu passado acarreta. Livre delas, estará em condições de progredir espiritualmente.

Mas o autor prossegue detalhando: "Essa purificação pode assumir muitas formas: manifestações puramente físicas, como o vômito, a transpiração, o jejum, a dor, a febre e a limpeza do corpo com a água, ou o intenso isolamento psíquico, (...) a exaustão extrema (...) e a doença real, que traz à tona obstáculos e impurezas interiores e que, na verdade, os expulsa, produzindo assim uma sensibilidade aumentada (...)"

Esse elenco de efeitos é, exatamente, o mesmo que acontece com os médiuns em desenvolvimento, por isso nossa comparação quando falamos que a transformação do indivíduo em xamã, conforme a clássica informação dada por Kalweit, é a mesma com relação ao que em nossa sociedade chamamos de mediunidade. E´ a purificação, ou expulsão de impurezas interiores, para que, livre desses estorvos, a pessoa tenha sua sensibilidade aumentada.

E é esse aumento de "sensibilidade que permite ao xamã (...) o diagnóstico e a cura das enfermidades alheias." Em nossa sociedade denominamos de médiuns de cura.

Como vemos, tudo tem sua razão de ser, e no caso específico da transmutação perceptiva, o processo que a isso leva se faz de forma ordeira, seqüencial e objetiva. Mesmo em que pese o desconforto de período. Jamais qualquer médium, ou xamã de cura, poderia ser assim aproveitado por seus pares espirituais, ou mentores, se em si ainda contivesse impurezas comprometedoras da higidez das outras pessoas. Seria um contra-senso utilizar-se um médium doente, física ou psiquicamente, ou, como também, possuidor de um caráter corrupto, para exercer trabalhos de cura. Suas energias envenenariam os pacientes.

"Freqüentemente, o xamã penetra a tal ponto no estado do paciente que termina por ter uma experiência direta dos sintomas e dores da enfermidade, e, assim, adquire um conhecimento especial da sua causa."

Informação preciosa esta. Nós, os médiuns, só conseguimos identificar as razões de um determinado acontecimento que envolva uma pessoa quando, em nós, sentimos o que ela sente. Há, pois, uma transposição de energia do paciente ao médium, e este, devido a isso, "lê" - interpreta - o significado contido naquelas energias.

Não é, portanto, uma interpretação teórica de algo que se estudou. Não, é sentir a reverberação das energias do paciente, com toda sua carga contundente. E´ esse canal que a sensibilidade desenvolvida abre no xamã, ou médium. Sem o instrumento dessa sensibilidade não lhe seria possível realizar o trabalho.

A figura 22E demonstra esse acontecimento que faz parte do trabalho assistencial que o médium de cura presta. No primeiro quadro, o médium envia energias corretivas ao paciente. Este, ainda com a aura tomada por energias nocivas, transfere-as ao médium que se comporta como canal de exaustão das mesmas. No segundo quadro, final do passe, a aura do paciente já está composta só por energias benéficas, recebidas pela intercessão do médium. Entre os dois, então, reverberam só energias agradáveis.



Como a figura também esclarece, durante esse processo assistencial, a aura do médium se expande e envolve o paciente. Desta forma, faculta ao médium "ler" - interpretar - o que se passa com o paciente. Como disse Kalweit, o "xamã penetra a tal ponto no estado do paciente"... A expansão da aura do médium é o que Kalweit chama de penetrar no estado do paciente. Essa interação, quando muito acentuada, provoca no médium as mesmas sensações que incomodavam o paciente. Daí, em muitos casos onde o comprometimento do paciente é grave, o médium sentir-se nauseado e mesmo enfraquecido em suas energias.

Isto, porém, embora possa alarmar a algumas pessoas, não quer dizer que o médium tenha, obrigatoriamente, que passar pela mesma sensação de incômodo que o paciente vivencia. Todavia, dada sua excepcional sensibilidade, lhe é inevitável não registrar, em si, o sintoma do paciente. Até por uma questão de coerência, sua função xamânica, ou mediúnica, existe em razão do despertar de sua percepção além dos cinco sentidos comuns a todas as pessoas.

Assim, pois, caminha o médium, em sua estrada de despertamento. A faculdade mediúnica lhe vem porque, como ser espiritual que é, chegou sua hora de transladar-se a significados mais profundos sobre a vida. Vivenciar, embora na Terra, tanto seu lado físico quanto sua estrutura espiritual, e isso faz dele um ser incomum.

Se no início do processo transformativo muitas são as aparentes incongruências a envolver-lhe, com o passar do tempo, e com a aceitação das tarefas a si destinadas, readquire a normalidade, e tudo se torna compreensível.

Não é, pois, sem motivo que os ensinos propalados pela Doutrina Espírita, e que já somam vastíssima literatura, batem e rebatem na mesma tese da evolução e do reencontro espiritual, exatamente para levar aos que delas necessitam, as luzes tranqüilizadoras da razão.

Portanto, e apesar de todas as aparentes incongruências que um despertar causa, na verdade, ali está, somente, um Ser reencontrando seu caminho de espiritualização. E isso, repetimos, é inevitável para todas as pessoas, indistintamente, pois todas estão destinadas ao progresso. Mais cedo, ou mais tarde, numa encarnação ou noutra, entretanto, sua vez também chegará.

As anotações de Holger Kalweit mostraram um outro aspecto do despertar. Aquele onde, visivelmente, predomina a influência de seres desencarnados sobre o encarnado em questão, desaguando na chamada faculdade mediúnica. Portanto, abrem o horizonte dos fatos que se desencadeiam num despertar. E se nos aprofundássemos um pouco mais, veríamos que além das influências de seres sobre seres, existem, também, as influências inumeráveis do cosmo sobre o Ser, e vice-versa, como nos referimos na apostila 21. Mas falar sobre isso, detalhadamente, fica para outra oportunidade.

Desta forma, concluímos que o processo de despertamento espiritual não se confunde com ritualismo religioso. E´ por isso que nestas anotações estamos usando informações que se originaram no campo científico, para demonstrar que são fatos que chamam a atenção de todos, e não só da facção mística. O despertar, na verdade, é o reencontro do Ser com o cosmo de sua Alma.

Bibliografia:

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - - Livraria Allan Kardec Editora
Jayme Cerviño - Além do Inconsciente - Federação Espírita Brasileira
Léon Denis - O Problema do Ser, do Destino e da Dor - Federação Espírita Brasileira
Leopoldo Balduíno - Psiquiatria e Mediunismo - Federação Espírita brasileira
Michaelus - Magnetismo Espiritual - Federação Espírita Brasileira
Stanislav Grof e Christina Grof - Emergência Espiritual - Editora Cultrix

Texto Feito Exclusivamente Para a FRATERNIDADE DA LUZ - SÃO SEPÉ/RS